
2018 foi um ano importante. Além da conclusão do doutorado, no primeiro semestre, também houve a realização de um projeto muito especial, que culminou no fim de novembro, com o lançamento do livro de comemoração dos 70 anos de atividades da Gráfica da UFRGS, em Porto Alegre. Pois é, depois de passar pela UFRGS TV e pela Assessoria de Imprensa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, acabei junto à equipe da Gráfica durante um momento ímpar do setor. Foi um prazer e também um grande aprendizado participar desse trabalho, com tanta gente comprometida em reunir essas memórias e artes da impressão na Universidade.
Mais adiante, está a matéria sobre o livro 70 anos da Gráfica da UFRGS: entre memórias e artes da impressão, com mais informações, fotos e também vídeos. Mas vou aproveitar o caráter do blog para, antes, falar um pouco sobre um detalhe bem importante da publicação que tem a ver diretamente com a pesquisa do doutorado em Comunicação — e que tem grandes chances de passar batido. Vamos lá!
Apesar de imprimir livros de toda a Universidade, a Gráfica nunca tinha impresso algo sobre si mesma nesse formato. Ao mesmo tempo, o trabalho da Gráfica estava em cada livro que produzia, na materialidade dos meios impressos. Isso tem tudo a ver com a discussão sobre a natureza dos meios e a dinâmica de sua transparência e opacidade, que eu estava travando na tese — só que no campo sonoro. Quando conversei sobre isso com Michele Bandeira, que coordenou o trabalho de editoração do livro, ela abriu caminho para que essa ideia estivesse presente na concepção do livro.
Junto com Tábata Costa, então estudante de Artes Visuais do Instituto de Artes (IA) da UFRGS, Michele chegou a essa capa dura de aspecto cru, com o número 70 impresso em relevo seco, sem tinta, sobre o papel paraná. Isso evidenciava o aspecto material da impressão como inscrição em um suporte. Mas, ao mesmo tempo, esse trabalho fica por trás do que é mais aparente: a sobrecapa colorida em couché fosco. Quem chegar à página 109 do livro, talvez encontre a conexão entre esse “pequeno” grande detalhe e a abertura do texto que escrevi em parceria com a professora Helena Kanaan, coordenadora do Núcleo de Arte Impressa do IA-UFRGS:
“Filósofos da mídia vêm apregoando há algum tempo que medium é aquilo que aparenta desaparecer por trás do que transmite. Quanto melhor fazem seu trabalho, mais imperceptíveis os meios se tornam. É claro que esse desaparecimento é apenas um truque característico de sua performance como meio. Isso porque, se o meio realmente desaparecesse, a mensagem à qual oferece suporte se desvaneceria junto consigo. Quando olhamos um livro, um cartaz ou um fôlder, é mais provável que nos detenhamos sobre o que é apresentado. Mas isso não quer dizer que não exista algo mais se operando ao fundo, algo fundamental ao processo de transmissão.”
Essa ideia declarada não está apenas refletida no conteúdo do livro, mas está mesmo embutida em seu aspecto material.
70 anos: Gráfica lança livro de memórias e artes da impressão
Foi lançado, no dia trinta de novembro, o livro 70 anos da Gráfica da UFRGS: entre memórias e artes da impressão (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2018. 252 páginas: ilustrado; 20x25cm), em comemoração ao aniversário da unidade integrante da Secretaria de Comunicação Social da Universidade. A cerimônia ocorreu no Centro Cultural e contou com a presença de servidores ativos e aposentados do órgão, além de artistas que tiveram seus trabalhos publicados na obra.
Organizado pela professora Helena Kanaan, do Núcleo de Arte Impressa do Instituto de Artes, pela programadora visual Michele Bandeira e pela produtora cultural Thaís Aragão, ambas do quadro da Gráfica, o livro está dividido em duas partes. A primeira delas reúne fotografias, documentos e depoimentos de servidores que vivenciaram diferentes períodos e dominaram distintas técnicas – algumas delas atualmente em desuso. O conjunto revela uma série de transições na indústria gráfica a partir de meados do século XX, passando da tipografia ao offset, e registrando a chegada da impressão digital. A segunda parte é constituída por uma mostra da arte de impressão gráfica produzida por 57 artistas que responderam a duas chamadas de incentivo às artes lançadas pela Gráfica em 2018, tendo como público-alvo estudantes de graduação da Universidade e artistas residentes no Rio Grande do Sul.
Conforme destacou Thaís, o trabalho que culminou no livro foi realizado ao longo de um ano, período no qual buscaram reunir fotografias, documentos e relatos que ajudassem a resgatar memórias da Gráfica. Segundo o diretor do órgão, Luis Carlos Espindula, os materiais estavam bastante dispersos, e o esforço de resgatá-los envolveu muitos setores da Universidade como o Museu da UFRGS e a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas.
“Fomos buscar, com um trabalho de formiguinha, o povo que fez todo esse trabalho lindo, as pessoas que passaram por todo esse processo, que construíram a nossa Gráfica”, enfatizou Jussara Porto, ex-diretora da Gráfica. “Esta é a primeira vez que a Gráfica conta sua história”, lembrou o Secretário de Comunicação da UFRGS, André Iribure, que aproveitou a ocasião para ressaltar o relevante papel institucional e cultural do órgão para a produção e divulgação do conhecimento construído na UFRGS.
Gráfica da UFRGS: uma longa trajetória
Instalada originalmente, em 1948, nos porões da Faculdade de Direito, a Gráfica começou a funcionar com uma pequena impressora multilith e atualmente dispõe de um moderno parque gráfico que atende a estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes da instituição. “De lá para cá, seu crescimento foi marcado pela constante modernização de equipamentos e pela atualização de seus profissionais, motivo pelo qual ela hoje se consolida como um dos setores essenciais à comunidade universitária”, afirma o reitor Rui Vicente Oppermann.
Segundo Espindula, entre 2012 e 2017, foram impressas mais de seis mil teses e dissertações. “Por dia, produzimos em média um livro e mais sete impressos diversos. No ano passado, ultrapassamos a marca de um milhão de cópias e recebemos mais de três mil ordens de serviço”, informa.
Para Iribure, Secretário de Comunicação Social da UFRGS, “a comemoração dos 70 anos de atividades da Gráfica da UFRGS deve servir não apenas para o reconhecimento dos avanços técnicos e processuais ocorridos, mas, principalmente, para prestar homenagem àqueles que contribuíram nessa caminhada”.
Mais imagens no site da Gráfica da UFRGS
Fotos deste post: Antonio Silveira, NUPE e acervo da Gráfica da UFRGS