Nesta reta final do doutorado na UNISINOS, saiu o primeiro volume do livro “Mapeando cenas da música pop: cidades, mediações e arquivos” (Marca de Fantasia, 2017), que reúne trabalhos produzidos em torno do POA Music Scenes. O projeto de pesquisa, financiado pela CAPES (CsF) e sob coordenação técnica da Profa. Adriana Amaral, foi desenvolvido em parceria entre o Programa de Pós-graduação em Comunicação da UNISINOS (São Leopoldo-RS) e a Universidade de Salford, na Grande Manchester (Reino Unido).
Foram três anos de muitas atividades acadêmicas, que incluíram o Simpósio Mapeando Cenas da Música Pop (2016) e o pós-doc do meu orientador, Fabricio Silveira, que publicou o livro “Guerra Sensorial. Música pop e cultura underground em Manchester” (Belas Letras, 2016), a partir da experiência por lá. Também está circunscrito no mesmo projeto o meu próprio estágio doutoral junto a Michael N. Goddard, em Londres, quando o professor já estava ligado à Universidade de Westminster. Aliás, ele acabou de anunciar, agora para janeiro, o lançamento de seu mais novo livro, “Guerrilla Networks: An Anarchaeology of 1970s Radical Media Ecologies”, pela série Recursions (Amsterdam University Press, 2018).
Foi na disciplina “Indústrias criativas, cidades e cenas da música popular”, ministrada por Goddard na UNISINOS em 2014, que desenvolvi o artigo que fecha este volume do livro lançado agora. A foto abaixo foi tirada depois da saída de campo que fizemos para mapear a música ao vivo na Cidade Baixa, inspirados em diversos métodos, de derivas situacionistas a mídias locativas. Já a imagem que abre este post foi captada por mim durante essa atividade, e tem muito a ver com o entrelaçamento de territorializações que produz esse bairro e que é debatido no artigo.

O artigo “Cidade Baixa e a produção de um lugar de música em Porto Alegre” é um exercício realizado a partir de uma vasta bibliografia selecionada por Goddard, da qual destaco Will Straw, que abre o livro do POA Music Scenes com o artigo “Cenas visíveis e invisíveis”; David Hesmondhalgh, professor de Mídias, Música e Cultura da Universidade de Leeds; e Sara Cohen, professora da Universidade de Liverpool que trabalha com patrimônio, memória e lugar, a partir de uma abordagem da antropologia da música.
O que mais me interessou no trabalho de Cohen, em particular, foi o trabalho com mapas e como ela orientava as entrevistas para que emergissem dados sobre a relação dos interlocutores como o espaço urbano. Muito próximo, portanto, do que venho trabalhando desde o mestrado, com os vendedores de chegadinho, e agora como os criadores de mapas sonoros. Cohen trabalha também com mapas mentais desenhados pelos próprios entrevistados, e isso foi algo que mais testei para este artigo.
Além desses mapas, também produzi outros que mostram dinâmicas de territorialização, desterritorialização e reterritorialização do lazer noturno em Porto Alegre em um século. Para tanto, contei com um amplo conjunto de pesquisas já produzidas sobre esse tema e esse espaço. Em resumo: o que investiguei foi o encontro de duas dinâmicas de territorialização, destacando o papel de práticas ligadas ao som e à música na constituição do bairro porto-alegrense Cidade Baixa, hoje considerado o principal lugar de música na capital gaúcha.
Outra boa surpresa desta publicação, além de ter Frank Jorge (Graforréia Xilarmônica) abrindo os trabalhos, é que ela saiu pela Marca de Fantasia, editora já velha conhecida, tocada pelo professor Henrique Magalhães, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB. Ele me ajudou muito com meu TCC, ““Os índies do Brasil” – Sobre o Tupanzine: fanzine brasileiro contemporâneo polêmico sobre indie rock”, por volta de 1998/1999, quando me cedeu sua tese sobre fanzines em disquete (!!). Ela era mais completa do que o livreto de sua autoria “O que é fanzine”, da Coleção Primeiros Passos, um clássico da Brasiliense.
Digressão… Se não me engano (mas teria que checar isso), fui de Fortaleza a João Pessoa pegar isso. E deve ter sido naquele fim de semana que também aproveitei para ir a uma feira de publicações independentes, onde certamente encontrei Jesuíno André, e que assisti a um show da Star 61, com performance inesquecível de Flaviano André – que nunca parou de agitar por aí, como se vê neste vídeo.
Tudo isso para dizer que a João Pessoa da editora Marca de Fantasia também tem uma cena interessantíssima.
A edição digital do primeiro volume do livro “Mapeando cenas da música pop: cidades, mediações e arquivos” está à venda no site da editora por simbólicos R$ 5,00. Isso mesmo: cinco reais. Há uma versão mais ampla do meu artigo disponível livremente nos anais do Encontro Nacional de Planejamento Urbano e Regional (ENANPUR) deste ano, mas recomendo muitíssimo o lançamento do POA Music Scenes. Tenho certeza de que o sumário reproduzido logo abaixo pode interessar a muitos de vocês. Ah, o volume II será lançado em 2018 e discutirá questões relacionadas a Materialidades, Redes e Arquivos.
Mapeando cenas da música pop: cidades, mediações e arquivos
Volume I – Cenas musicais, indústrias criativas e cidades
SUMÁRIO
Sobre os autores
Apresentação
Frank Jorge
Mapeando cenas da Música Pop em Porto Alegre: memórias, materialidades e indústrias criativas
Adriana Amaral, Ivan Bomfim, Marcelo Bergamin Conter, Gustavo Daudt Fischer, Michael N. Goddard e Fabricio Silveira
Cenas visíveis e invisíveis
Will Straw
A MPBzação do rock mainstream no Brasil
Gustavo Alonso
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Richard Kolberg, Débora Dalla Pozza, Flavi Ferreira Lisbôa Filho
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