Estou muito feliz por finalmente anunciar a data do ato público de conclusão do meu curso de mestrado em Planejamento Urbano e Regional aqui na UFRGS, em Porto Alegre. No dia 30 de agosto de 2012, às 14 horas, defenderei a dissertação “Doce som urbano: o triângulo e as territorializações dos vendedores de chegadinho em Fortaleza”.
Gilmar de Carvalho, Viviane Vedana e João Rovati formarão a Banca Examinadora, bem de acordo com um programa de pós-graduação interdisciplinar: Comunicação (e Cultura), Antropologia (do Som) e Arquitetura e Urbanismo (Planejamento). Será uma honra e um prazer concluir ouvindo essa turma de peso.
Serei sempre profundamente grata a tod@s @s inúmer@s colaboradores da pesquisa e ao meu orientador no PROPUR, professor Eber Marzulo, por terem acreditado nessa ideia junto comigo. Não teria feito sozinha.
Ah, a arte da caneca é do designer Chico Neto, parceiro incondicional: preparativos para o lançamento do documentário em vídeo, com imagens que estiveram na gênese do trabalho, anteriores à pesquisa acadêmica. Nos aguardem!
Está todo mundo convidado. Seria um grande prazer contar com a presença dos leitores do Escuta Nova Onda nesse momento (tenso, rsrs).
Segue o RESUMO.
Este estudo propõe que nos debrucemos sobre o ambiente sonoro da cidade, a fim de investigar o que dele pode emergir, que seja chave para a compreensão da sociabilidade contemporânea em aglomerados urbanos. Investigamos o som como elemento central de um processo de territorialização, constituindo uma tática de apropriação do espaço público. O recorte apreendido foi o vendedor de um biscoito chamado chegadinho, os percursos que ele empreende para cobrir extensas áreas da cidade de Fortaleza em sua atividade, e o hábito de tocar um instrumento musical – o triângulo – para comunicar sua passagem e estabelecer contato com a população. Foram mobilizados informantes para localização desses eventos sonoros, formando um mapa de pontos de escuta. Paralelamente, ambulantes foram entrevistados e itinerários, traçados. Foi também realizada uma pesquisa histórica e memorial que forneceu um panorama da constituição daquele território e dos sons da capital a partir da primeira metade do século XX, assim como dos antecedentes, rebatimentos e reverberações da própria prática ambulante observada. Identificou-se que os vendedores abordados, quando em atividade, tendem a realizar um movimento do Centro em direção ao bairro Aldeota, reproduzindo ou acompanhando o vetor de deslocamento de residências e varejo característicos de camadas mais altas que se estabeleceu na dinâmica urbana de Fortaleza a partir da segunda metade do século XX. Foi possível perceber também a tendência de que os fluxos que emergiram dessas enunciações pedestres partem da zona oeste para a zona leste de Fortaleza, de áreas residenciais das camadas populares para áreas residenciais de camadas de média e alta renda. A partir da investigação, chegou-se à conclusão de que a passagem dos vendedores de chegadinho em Fortaleza se conforma como um padrão de fenômeno social associado à hierarquização do espaço físico como espaço social. O estudo se dedicou ao cotidiano, especialmente ao espaço banal de Milton Santos e à historicidade cotidiana de Michel de Certeau, para analisar como práticas humanas não apenas envolvem o uso do espaço mas também o criam. Assim como sugere Certeau, para quem a cultura popular é um conjunto móvel de táticas, os relatos de espaço coletados junto aos vendedores de chegadinho serviram de base de análise para entender o uso que esse grupo de sujeitos faz do repertório oferecido pelo sistema urbanístico – uso que é assumido como produção do espaço e que, para o autor, é uma atividade cultural de sujeitos não produtores de cultura convencionais.
Palavras-chave: som; cidade; cotidiano; vendedores ambulantes; cultura popular
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