Foi mesmo por suicídio que morreu o baterista do Inspiral Carpets, Craig Gill, apenas alguns dias depois de ter nos guiado em novembro passado, em seu serviço de turismo Manchester Music Tours. Nenhuma matéria naquele momento dizia o motivo, o que acendeu esse alerta por aqui. Há poucos dias, no entanto, familiares e amigos vieram a público esclarecer que Gill tirou, sim, sua própria vida, e que fez isso porque há muito tempo convivia com um zumbido na cabeça, que só ele ouvia. Tal condição é conhecida como acufeno, ou tinnitus.
“Nos últimos 20 anos, Craig sofreu de tinnitus, uma condição debilitante causada pela falta de proteção nos ouvidos ao desfrutar das carreiras que ele mais amava – um músico e DJ bem sucedido, apaixonado por ouvir música. Isso afetou seu bem estar cotidiano e ele sofreu em silêncio, com privação de sono e ansiedade”, declarou sua esposa, Rose Marie Gill, ao jornal The Guardian.
Só no Brasil, a estimativa é de 28 milhões de pessoas vivendo com o problema, que não é tido como uma enfermidade, mas como um sintoma. Entre as causas, podem estar o excesso de cera, infecções e lesões do ouvido, e a perda de audição. Por isso é realmente importante se proteger, não abusando de fones de ouvido e evitando exposição prolongada a níveis elevados de intensidade sonora.
Casas de show pela Europa costumam distribuir plugs de ouvido gratuitamente, como mostra esse cartaz com o qual me deparei no Kentish Town Forum, em Londres, quando fui assistir The Fall e Hookworms, em janeiro. Isso bem que podia ser mais comum no Brasil mas, enquanto não é, esses tampões ainda podem ser facilmente encontrados em lojas de material de construção, a preços bem módicos. É bom comprar um punhado e ter sempre algum par dentro da bolsa, pronto para usar. No Exterior, há modelos mais sofisticados à venda, como esse PartyPlug PRO da Alpine aí embaixo, que filtra sons tentando não barrar a apreciação da música.
Mas nem toda causa de acufeno relaciona-se aos ouvidos. Ele pode vir de desvios de coluna, alterações cardiovasculares, diabetes, disfunções da articulação da mandíbula e alto consumo de cafeína, álcool e tabaco. Ou seja, os cuidados devem ser globais. Segundo Luiz Fujita Jr, colaborador do site de Drauzio Varella, “ansiedade e depressão alteram os níveis dos neurotransmissores que estimulam as vias auditivas e podem causar zumbido. Como o estado emocional pode confundir a noção do que veio antes ou depois, é fundamental conduzir uma investigação minuciosa para saber o que é causa ou consequência e, assim, poder tratar adequadamente”. Como o problema original pode ser assintomático, a busca pela cura pode ser difícil. Mas não impossível.
Tratamentos existem e, quando a causa está relacionada à surdez, adaptações no aparelho amplificador podem resolver. Outros aparelhos geram sons, como o ruído branco e o ruído rosa, que anulam a percepção dos zumbidos. Terapias podem durar até dois anos e também envolvem acompanhamento psicológico e um certo treinamento mental. “É como treinar o cérebro para lidar com o zumbido da mesma forma que lida com o som de uma CPU: ele percebe o som quando o computador é ligado, mas rapidamente passa a ignorá-lo, a ponto de só voltar a perceber quando ele é desligado”, afirma Fujita Jr. Não deixem de ler o artigo completo.
E moças, se cuidem! Não se sabe o motivo, mas mulheres são mais afetadas que homens.