
Fui surpreendida ontem nas redes sociais com post do geógrafo Rogério Haesbaert sobre a partida de Doreen Massey. Esperava que pudéssemos ainda contar com a sabedoria dela por muitos anos mais. Apenas no ano passado consegui ler de capa a capa seu livro Pelo espaço: Um nova política da espacialidade, que transformou minha imaginação sobre o espaço. Para Massey, o espaço é o encontro de histórias. Um espaço aberto, em devir, inesperado, vivo e desafiador, tão impossível de representar quanto o tempo.
Ao mesmo tempo em que veio ao meu socorro, me ajudando a dar palavras aos sentimentos de incômodo que afloraram quando estava lendo Bergson filosofar sobre a espacialidade, Massey me fez perceber pontos cegos nas formulações de autores como Michel de Certeau. Precisamos estar atentas até nas leituras mais prazerosas!
Ainda em 2005, quando esteve em Fortaleza para o Encontro da Anpege – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, perguntaram a ela o que achava da geografia que se fazia no Brasil. “Teria que ler mais sobre isto. Não conheço bastante. Mas penso que o que há de mais importante que se faz aqui, como em outros países, é não copiar os modelos estrangeiros. Desenvolver algo próprio.” Fica a grande inspiração.
“O espaço é tão desafiador quanto o tempo. Nem o espaço nem o lugar podem fornecer um refúgio em relação ao mundo. Se o tempo nos apresenta as oportunidades de mudança e (como alguns perceberiam) o terror da morte, então o espaço nos apresenta o social em seu mais amplo sentido: o desafio de nossa inter-relacionalidade constitutiva – e, assim, a nossa implicação coletiva nos resultados dessa inter-relacionalidade, a contemporaneidade radical de uma multiplicidade de outra, humanos e não-humanos, em processo, e o projeto sempre específico e em processo das práticas através das quais essa socioabilidade está sendo configurada.” Último parágrafo do livro.
Abaixo, reproduzo as notas de Haesbaert. Ele ajudou a traduzir Pelo espaço para o português e assinou a apresentação da edição brasileira, em que conta parte da história desse encontro. Fundamental, porque é disso que tudo se trata.
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A notícia do falecimento de Doreen Massey vem só uns poucos meses depois da morte de Edward Soja, outro grande pensador do espaço na contemporaneidade. Um dia triste para a geografia… embora ontem David Harvey tenha levado centenas de pessoas à Cinelândia, no Rio de Janeiro, para a aula pública de encerramento do curso “Cidades Rebeldes“. Salve o espaço!