Estava lendo aqui uma entrevista com Jeanne Marie Gagnebin sobre a obra de Walter Benjamin, da qual é dedicada pesquisadora. Chamou minha atenção – e destaco aqui – um trecho em que Gagnebin explica os problemas de se usar palavras (que, por mais simples que sejam, encerram conceitos) sem compreender o contexto a partir do qual elas foram articuladas – neste caso, o espaço-tempo da produção benjaminiana.
“[É] uma questão hermenêutica muito mais ampla. Ela se coloca cada vez que lemos ou estudamos textos escritos numa outra época e, igualmente, como você ressalta, em outra língua, porque se pensa de maneira diferente segundo as línguas que se fala… Por exemplo, se pensa diferente se você tem três gêneros (masculino, feminino, neutro) ou dois (masculino, feminino) ou nenhum. Ou se se fala do ‘ser’ segundo a modalidade de ‘ser’ e de ‘estar’, ou somente de sein ou d’être. Cada língua tem seus pressupostos metafísicos… e, também, históricos. A palavra ‘Volk’ (povo) em alemão não pode ser usada mais de maneira inocente depois do nazismo e de ter ainda, na memória auditiva e afetiva, a voz de Hitler.”
Pesquisa de material escrito deixa algumas brechas. Uma maior consideração não só das práticas que envolvem o que se estuda, mas também da dimensão sonora dessas práticas, pode enriquecer investigações em aspectos fundamentais. Como, por exemplo, aquilo que a palavra falada evoca, invoca, conjura.
Além disso, esse trecho da fala de Gagnebin também me lembra que hoje é um ótimo dia para estudar um pouco de alemão! E para dizer a vocês que, já há alguns meses, estou tentando me preparar para uma conversa especial sobre idiomas, sonoridades e cultura aqui para o blog. Espero que o transe do trabalho me deixe realizar isso em breve.